Há uma tendência a se considerar as origens biológicas, psicológicas e socioculturais do impulso e da resposta sexual como separações artificiais. Todas essas dimensões são, de fato, inseparáveis e ocorrem de forma conjunta, tanto nos processos e nas respostas normais como nas disfunções.

DISFUNÇÕES SEXUAIS

A sexualidade, desejo fundamental do ser ocupa um lugar central em nossa condição existencial. Ela compreende três dimensões básicas: uma biológica, uma psicológica e outra sociocultural.

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A dimensão biológica corresponde ao impulso sexual, determinado por processos fisiológicos, cerebrais e hormonais (sobretudo a testosterona, a vasopressina e a oxitocina e o neurotransmissor dopamina). 

A dimensão psicológica diz respeito aos desejos eróticos subjetivos e à vida afetiva intimamente implicada na vida sexual. 

Por fim, a dimensão sociocultural se refere aos padrões de desejos, comportamentos e fantasias sexuais criados e sancionados historicamente pelas diversas sociedades e grupos sociais.

Entretanto, há uma tendência a se considerar as origens biológicas, psicológicas e socioculturais do impulso e da resposta sexual como separações artificiais. Todas essas dimensões são, de fato, inseparáveis e ocorrem de forma conjunta, tanto nos processos e nas respostas normais como nas disfunções.

O impulso sexual, no plano biológico, visa a procriação e manutenção da espécie. 

As dimensões psicológicas e culturais dizem respeito ao desejo erótico, às fantasias sexuais e à dimensão subjetiva de prazer que a vida sexual pode produzir. 

Enquanto o impulso sexual é relativamente restrito em seu repertório, pois se sustenta sobre aspectos instintivos e biológicos que têm um fim bem-determinado (a reprodução), o desejo erótico é extremamente plástico, comportando uma infinidade de variações

Assim, a vida sexual é extremamente vinculada à vida afetiva do sujeito, à personalidade total e aos símbolos culturais que geram e confirmam as fantasias e práticas sexuais mais variadas.

A sexualidade não é uma simples tensão orgânica anônima. Muito pelo contrário, toda a vivência humana está carregada de intencionalidade, de desejos que buscam a satisfação. A forma específica, pela qual cada um realiza a sua sexualidade é também característica de sua existência no mundo. 

Portanto, para ele, a sexualidade é um daqueles terrenos, um daqueles palcos, onde se lançam e ganham vida todos os conflitos e as peculiaridades dos seres humanos.

Fases do ciclo sexual

Atualmente, costuma-se estudar a sexualidade humana discriminando-se quatro fases distintas do ciclo sexual: 

  • fase do desejo sexual, 
  • fase de excitação, 
  • orgasmo e 
  • fase de resolução.

1. Fase do desejo sexual 

A fase do desejo sexual é a mais complexa do ponto de vista psicológico, a menos fisiológica, pois depende do mundo das fantasias eróticas, das representações sociais e dos símbolos culturais relacionados à sexualidade. 

Apesar disso, o desejo sexual tem também um componente biológico, influenciado por fatores hormonais neuronais. 

Na fase do desejo, o indivíduo pode já ter sensações físicas relacionadas à atração que uma pessoa ou um objeto lhe desperta. Parece que o desejo sexual do homem responde mais a estímulos visuais; nas mulheres, é afetado por fatores afetivos e não necessariamente “sensoriais”; tal diferença relaciona-se mais a fatores culturais que a fatores biológicos.

2. Fase da excitação

A fase da excitação é a etapa inicial da relação sexual propriamente dita, com modificações corporais preparatórias do intercurso sexual. O homem apresenta vasodilatação reflexa e preenchimento sanguíneo dos corpos cavernosos penianos, aumento do saco escrotal e do tamanho do pênis. Pela uretra, começa a ser expelido um líquido lubrificante que facilita a penetração. 

Na mulher, ocorre congestão sanguínea, aumento do volume dos genitais externos e do tamanho do clitóris (semelhante à ereção do pênis), secreção de um líquido lubrificante da vagina, preparando-a para receber o pênis. Os mamilos em ambos os sexos tornam-se eretos, mas de forma mais intensa nas mulheres.

A excitação aumenta no homem pelo toque do pênis. As mulheres, por sua vez, podem sentir-se excitadas pelo toque dos mamilos ou de outras áreas erógenas; também podem sentir-se desconfortáveis se forem tocadas no clitóris antes de certo nível de excitação. Fisicamente, a fase de excitação implica uma resposta genital de congestão que é organizada pelo sistema nervoso autônomo. A fase de excitação pode durar de alguns minutos a várias horas. Entretanto, uma excitação mais intensa precedendo o orgasmo dura, de modo geral de 30 segundos a alguns minutos.

3. Fase de orgasmo 

A fase de orgasmo é o pico do prazer sexual, em que há liberação da tensão sexual e contração rítmica dos músculos do períneo e dos órgãos reprodutivos pélvicos. 

No homem, surge após a estimulação peniana, principalmente da glande e do prepúcio. Ocorrem dois reflexos coordenados: a emissão e a ejaculação. Na emissão, que não é necessariamente prazerosa, há contração reflexa dos músculos, o que provoca o depósito do fluido seminal na uretra posterior. Nesse momento, dá-se a sensação difusa de “inevitabilidade ejaculatória”.

Na ejaculação propriamente dita, ocorre a contração dos músculos da base do pênis, que impulsionam o fluido seminal para fora do pênis em alguns poucos jatos sucessivos, provocando intensa sensação de prazer. 

Já no orgasmo feminino, ocorrem 3 a 12 contrações rítmicas em volta da entrada da vagina, acompanhadas de forte sensação de prazer. A resposta de orgasmo feminino pode ser controlada até que surjam as contrações musculares involuntárias. 

Em ambos os sexos, há, frequentemente, contrações involuntárias do esfincter anal interno e externo. O orgasmo dura de 3 a 25 segundos e está associado a leve “transe” da consciência.

4. Fase de resolução

A fase de resolução é a etapa de retorno às condições normais do organismo, voltando as frequências cardíaca e respiratória, a pressão arterial e as condições dos genitais gradativamente ao estado anterior ao ato sexual. 

O homem apresenta um período refratário após o orgasmo, em que a ereção e a resposta orgástica estão inibidas por um certo tempo, independentemente de sua vontade. 

Na mulher, o período refratário não é tão determinado, podendo ocorrer com mais facilidade vários orgasmos sucessivos. 

Após o orgasmo, tanto o homem como a mulher sentem, muitas vezes, a sensação de relaxamento, de paz e, às vezes, de sono ou depressão. Se ocorreu o orgasmo, a fase de resolução é mais rápida, mas se ele não ocorreu, a fase de resolução pode durar de 2 a 6 horas e estar associada a desconforto e irritabilidade.

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TRANSTORNOS SEXUAIS

Transtornos do desejo e da resposta sexual

Em qualquer momento do ciclo de desejo e resposta sexual, podem ocorrer disfunções que comprometam a atividade sexual satisfatória.

O desejo sexual inibido é caracterizado pela inibição persistente de qualquer tipo de desejo de natureza sexual, de fantasias sexuais ou interesse por temas ou pela atividade sexual. A avaliação da inibição deve levar em conta os padrões culturais, a faixa etária e a situação de vida da pessoa acometida. 

É relevante, do ponto de vista prático, quando a ausência de desejo sexual desperta sofrimento no sujeito ou em seu parceiro. Fatores relacionados ao desejo sexual inibido são determinados por conflitos intrapsíquicos, por repressão exacerbada relacionada à temática sexual, por padrões educacionais e culturais que associam fortemente a sexualidade ao pecado, à culpa e à “sujeira”, por conflitos interpessoais, particularmente a hostilidade no relacionamento do casal, que acaba se convertendo em inibição.

Em qualquer momento do ciclo de desejo e resposta sexual, podem ocorrer distúrbios que comprometam a atividade sexual satisfatória.

Excitação e orgasmo feminino inibido (frigidez)

Na mulher, a ausência de excitação sexual, designada no passado como “frigidez”, manifesta-se pela dificuldade ou incapacidade em obter uma resposta crescente de lubrificação da vagina associadas ao desejo e às carícias sexuais. A ausência do orgasmo feminino manifesta-se quando, após a fase de excitação normal, a mulher não consegue obter o orgasmo. Tal fenômeno é de certa forma comum e está provavelmente associado a questões culturais relativas à sexualidade feminina.

Relacionados a dificuldades ou ausência de excitação e orgasmo feminino, identificam-se fatores intrapsíquicos como ansiedade, diminuição da autoestima, frustrações crônicas, sentimentos de medo, de culpa, irritabilidade e depressão, e fatores interpessoais, geralmente da relação íntima do casal, como hostilidade inconsciente ou consciente, luta pelo controle e por poder na relação conjugal, desprezo pelo parceiro, etc. 

Particularmente importante é a qualidade do relacionamento afetivo do casal.

De modo geral, é comum a insensibilidade do homem em relação a desejos, fantasias e ritmo de resposta sexual da mulher.

Normalmente, o homem alcança a ejaculação e o orgasmo bem mais cedo que a mulher e abandona a relação sexual, bem antes desta ter atingido o grau de excitação suficiente para que sejam desencadeadas as reações fisiológicas e emocionais do orgasmo.

O homem muitas vezes não sabe ou não consegue acariciar e excitar a mulher, não quer ou não consegue esperar que ela alcance, no seu ritmo, o patamar de excitação necessário ao orgasmo.

Podem contribuir para a disfunção de excitação e/ou do orgasmo feminino fatores orgânicos, como dor pélvica ou abdominal, corrimentos e pruridos vaginais, bem como o uso de medicamentos, como sedativos e antidepressivos, que podem inibir a excitação e o orgasmo na mulher.

Ejaculação precoce

A ejaculação ocorre de forma muito rápida, antes de o homem desejá-la, por dificuldade significativa no controle voluntário mínimo que tem sobre ela durante a atividade sexual. 

A causa da ejaculação precoce é de base psicológica e psicodinâmica na maioria dos casos. 

Uma expectativa enorme em relação ao ato sexual e um forte componente de ansiedade podem ter papel importante na gênese da ejaculação precoce.

Em adolescentes e jovens, o fato de o indivíduo ter as suas primeiras relações sexuais em circunstâncias estressantes, rodeado de medos e tabus é, em muitos casos, um elemento que apressa a ejaculação, resolvendo-se assim a ansiedade quanto a ter ou não ter a relação sexual. É comum o adolescente, amadurecido após algum tempo no que concerne a sua sexualidade, suas expectativas e temores em relação à mulher, e mesmo por certo treino e aprendizado em lidar com suas reações físicas no ato sexual, “aprender” a adiar a ejaculação e alcançá-la quando deseja.

Em adultos com parceiras estáveis, a ejaculação precoce pode estar associada a medo ou raiva da parceira, falta de prazer na relação e sentimentos de solidão e isolamento. A ejaculação precoce também pode estar associada a condições médicas como prostatites, epididimites e uretrites.

Disfunção erétil – impotência

O termo disfunção erétil tem sido preferido à impotência sexual, para não se confundir a dificuldade em obter uma ereção, devida geralmente a ansiedade e conflitos psicológicos ou a doenças orgânicas, com as conotações do termo que podem sugerir ser “fraco”, “frouxo”, “impotente” diante da vida.

Tais conotações, além de imprecisas, são muito desmoralizantes para o homem em nosso contexto cultural. Pode-se definir a disfunção erétil pela falha parcial ou total do homem em alcançar e manter a ereção até o final do ato sexual.

A ereção reflexa é controlada pelo plexo sacral, pelos nervos pudendo e erigente.

A ereção mediada por mecanismos “psicogênicos”, por sua vez, é influenciada pelo córtex cerebral, pelos plexos simpáticos toracolombares e parassimpáticos sacrais. Também o sistema límbico desempenha importante papel na ereção, explicando a potente ação inibitória da ansiedade sobre a ereção.

Classicamente, diferencia-se a disfunção erétil de base psicogênica daquela de base orgânica; entretanto, sabe se que, em muitos casos, há a somatória dos dois componentes. Aquelas de base psicogênica tendem a ser mais situacionais e transitórias; as orgânicas, mais constantes e inespecificas. De modo geral, a disfunção erétil persistente resulta de uma interação complexa de fatores psicológicos, psiquiátricos, neurológicas vasculares, endócrinos e mecânicos.

É comum (e normal) a ocorrência transitória de episódios ou períodos de dificuldade ou incapacidade erétil em uma grande porcentagem dos homens. Frequentemente quando o indivíduo está muito ansioso, com muitas expectativas em relação ao ato sexual, a ansiedade acaba por produzir intensa inibição sobre o reflexo de ereção, e ele não obtém a ereção. Quanto mais deseja e se esforça, maior a ansiedade e maior a inibição do reflexo. Além disso, fatores como hostilidade inconsciente em relação à parceira, sentimentos de culpa, de inferioridade ou depressão podem contribuir significativamente para as dificuldades eréteis do homem.

Em uma perspectiva médica, duas condições freqüentes na clínica diária são: a disfunção erétil no homem e a dispareunia (desconforto ou dor na relação sexual) na mulher.

No homem, a disfunção erétil está associada a condições como depressão, hipertensão, diabete, patologia vascular, insuficiência renal, insuficiência cardíaca, apnéia do sono e, mais raramente, baixos níveis de testosterona. 

Na mulher, a dispareunia e a disfunção de excitação e orgasmo a ela associada são comumente condições crônicas e estão, de modo geral, relacionadas a um grande número de problemas ginecológicos (vulvovestibulite, atrofia vulvovaginal, dor abdominal crônica, sintomas do trato genitourinário baixo, etc.), podendo haver também dificuldades psicológicas e transtornos psiquiátricos associados.

PROBLEMAS RELACIONADOS A SEXUALIDADE

O abuso sexual, o estupro, são fenômenos trágicos e dolorosos que integram a vida diária da maioria das sociedades atuais. Por parte do agressor, é uma forma de descarregar a tensão, a agressividade ou o sadismo sobre uma vítima que não pode lhe oferecer resistência. A maioria das vítimas são mulheres adolescentes ou jovens, sendo os agressores às vezes homens conhecidos das vítimas, às vezes parentes (pais, padrastos, tios, etc.). Durante o estupro, a vítima geralmente sente grande medo e pânico, podendo experimentar “estado de choque”. Dias a meses depois, a vítima pode sentir-se muito envergonhada, deprimida, humilhada, com raiva e medo. Estudos recentes indicam forte relação entre ter sofrido abuso sexual na infância e transtornos da conduta na adolescência e transtornos da personalidade, depressão, transtornos da alimentação e abuso de substâncias psicoativas na vida adulta.

Existe tratamento para as disfunções sexuais?

Sim, existe. O tratamento é avaliado de forma individualizada, em geral, a indicação é de psicoterapia, podendo ser associada a tratamento medicamentoso, que é prescrito e acompanhado pelo psiquiatra. Dados mostram que o uso exclusivamente de medicamentos psicoativos tende a não resolver e manter alguns sintomas residuais; portanto, o ideal é o tratamento medicamentoso combinado com a psicoterapia, sempre avaliando caso a caso.

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Fonte: Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais -  2a edição - Paulo Dalgalarrondo


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