A insônia é um dos sintomas mais comuns em saúde mental. É preciso ter sono restaurador para melhora da sua saúde física e mental.
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DISTÚRBIOS DO SONO
Há uma grande variabilidade individual em relação ao padrão e à necessidade de sono. Algumas pessoas sentem-se descansadas e ativas durante o dia dormindo cinco horas por noite; outras necessitam de 10 a 12 horas de sono para se sentirem bem durante o dia. Segundo a Classificação Internacional dos Transtornos do Sono (ICSD-2), existem mais de 80 transtornos constituindo a chamada Medicina do Sono.
O diagnóstico dos transtornos do sono é realizado por meio de anamnese detalhada referente aos comportamentos relacionados ao sono e à sonolência. Nos casos de diagnóstico mais difícil, é conveniente utilizar o laboratório de sono, no qual são feitas as avaliações global, fisiológica e comportamental do sono, por meio de exames como eletroencefalograma, eletrocardiograma, eletroculograma, fluxo respiratório bucal e nasal, monitorização de movimentos torácicos e abdominais, etc.
INSÔNIA
A insônia é um dos sintomas mais comuns em saúde mental, calcula-se que cerca de um terço da população adulta tem pelo menos alguns dias de insônia clinicamente significativa durante um ano.
A insônia caracteriza-se:
- Insônia inicial: pela dificuldade em adormecer,
- Sono entrecortado: pela dificuldade em permanecer adormecido,
- Insônia terminar: despertar muito precoce, acordando de madrugada (geralmente por volta das 3 a 5 horas da manhã), não conseguindo voltar a dormir.
Não só importa a redução da quantidade de sono, mas também a qualidade do sono e, sobretudo, a sensação de ter tido um sono reparador.
A insônia inicial e/ou o sono entrecortado geralmente ocorrem associados a quadros de ansiedade aguda ou crônica, tensão ou preocupação excessiva ou depressão.
Já a insônia terminal associa-se mais frequentemente a quadros depressivos.
Ter insônia implica prejuízo no funcionamento diário e piora na qualidade de vida em decorrência do sono ruim.
No Brasil, cerca de 40% das pessoas apresentam queixas de insônia. Cerca de metade dos quadros de insônia se associa a transtornos psiquiátricos (depressão, ansiedade, fobias, dependência química, transtorno bipolar) ou distúrbios médicos (obesidade, síndromes dolorosas, refluxo, doenças pulmonares que implicam dificuldades respiratórias, insuficiência cardíaca).
Alguns hábitos e fatores relacionados à insônia são: hábitos inadequados como dormir muito durante o dia ou acordar em horas diferentes a cada dia, uso excessivo de café durante o período noturno, abuso de álcool ou outras substâncias psicoativas, comer copiosamente à noite, realizar tarefas e atividades muito tensas no período noturno.
SÍNDROME DAS PERNAS INQUIETAS
Esta síndrome caracteriza-se pela necessidade irresistível de mover as pernas (acatisia) acompanhada pela sensação de desconforto dentro delas (pode também acometer os braços e todo o corpo). Podem ocorrer sensações parestésicas (formigamentos, sensação de peso ou de pinicar, etc.) nas pernas, entre o tornozelo e o joelho. Esse desconforto se intensifica com o repouso e melhora com o movimento. A sensação é pior à noite, prejudicando seriamente o sono. Ocorre em 5 a 15% da população adulta, aumentando com a idade.
Na síndrome das pernas inquietas, são comuns as mioclonias noturnas, espasmos musculares involuntários e bruscos, movimentos das pernas repetitivos e estereotipados, que predominam durante o estágio 2 do sono não-REM.
APNÉIA DO SONO
De modo geral, a apnéia do sono caracteriza-se pela ocorrência de pausas respiratórias curtas, de 10 a 50 segundos, durante o sono. Nos episódios de apnéia, o indivíduo geralmente ronca, a saturação sanguínea de oxigênio cai e, com frequência, ocorre breve despertar.
Para o diagnóstico, exige-se que ocorram pelo menos 30 episódios de pausas em uma noite. De modo geral, os apnéicos apresentam cerca de 200 a 600 pausas respiratórias em uma noite, que produzem em média 400 a 500 rápidos despertares, afetando gravemente a arquitetura do sono e causando alterações do sono e uma série de repercussões clínicas.
Quando se observam pacientes que se queixam de constante sonolência, dores de cabeça, cansaço e irritação durante o dia, deve-se perguntar aos cônjuges (ou outras pessoas que observam o paciente dormindo com certa frequência) se eles são pessoas que, durante o sono, apresentam roncos, pausas respiratórias, sono muito agitado, necessidade de urinar à noite e sudorese noturna. Em caso positivo, deve-se suspeitar de apnéia do sono e indicar um estudo polissonográfico (PSG) a fim de confirmar o diagnóstico.
Trata-se de uma condição frequente. Estima-se que cerca de 9% da população masculina de meia-idade e 4% da população feminina após a menopausa sofrem de apnéia obstrutiva do sono.
A apnéia do sono divide-se em três subtipos: a apnéia obstrutiva, a central e a mista.
A apnéia obstrutiva é causada pela obstrução das vias aéreas superiores. Ocorre periodicamente o colabamento (condição anormal de um órgão em que suas paredes, geralmente separadas, passam a entrar em contato uma com a outra ou se ligam) das vias aéreas superiores (VAS). Tal distúrbio em geral associa-se a sobrepeso ou obesidade, pescoço curto e/ou alterações estruturais da cavidade orofaríngea (como palato rebaixado).
A apnéia obstrutiva frequentemente é acompanhada de sonolência diurna intensa, fadiga, irritabilidade e cefaléia matinal. Há o relato de roncos altos, interrompidos periodicamente por pausas respiratórias. É mais comum em homens de meia-idade.
A apnéia central caracteriza-se pela ausência de esforço respiratório devido a déficit no comando dos centros neuronais respiratórios. O paciente relata despertares frequentes durante a noite, às vezes associados com sensação de sufocamento. As principais queixas são de insônia, sono não-reparador e cansaço pela manhã. O sobrepeso não é tão freqüente, e o ronco, quando observado, não é de forte intensidade.
A apnéia mista apresenta o seguinte mecanismo: a pausa respiratória se inicia por um mecanismo central e evolui por um mecanismo obstrutivo das VAS. Na maior parte das apnéias, parece haver a combinação de fatores obstrutivos e centrais.
Existe tratamento para insônia e demais distúrbios do sono?
Sim, existe. O tratamento é avaliado de forma individualizada, em geral, a indicação é de psicoterapia, podendo ser associada a tratamento medicamentoso, que é prescrito e acompanhado pelo psiquiatra. Dados mostram que o uso exclusivamente de medicamentos psicoativos tende a não resolver e manter alguns sintomas residuais; portanto, o ideal é o tratamento medicamentoso combinado com a psicoterapia, sempre avaliando caso a caso.
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Fonte: Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais - 2a edição - Paulo Dalgalarrondo
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